História não é opinião

O principal desafio de publicar conteúdo e informação desmistificando a integração obrigatória entre ballet e Jazz, como se Jazz viesse da dança clássica, são os comentários colocando a pesquisa como opinião .Acredito que parte desse tipo de retorno, é por conta do viés racial do meu estudo, que prioriza a reparação histórica do jazz e o apontamento de práticas sociais racistas com essa dança.

Para quem já buscou sobre as raízes do Jazz, mesmo que de maneira superficial, sabe que começa a ter entendimento dessa dança, com esse nome, a partir da década de 1920, com Charleston. Quem foi um pouco mais além, tem conhecimento do tap dance, cake walk, spirituals, ring shout e que isso vem da diáspora forçada de pessoas negras nas Américas, principalmente de povos e países do Oeste da África ou África ocidental.

Em meados da década de 1930, começa a Swing Era, período de aproximadamente uma década em que a música e a dança do Jazz eram muito populares nos Estados Unidos. Período também em que Jack Coloe, que por muito tempo foi chamado de “pai do Jazz”, começou o seu trabalho como coreógrafo. Nessa época, ele estudava com Ruth St Denis e Ted Shaw na Denisshaw (atual Jacob’s Pillow), que era focada na dança moderna. Quando começou a se interessar por outras danças, estudou também Flamenco e a técnica de ballet Cecchetti.

Uma frase dita por ele, em 1963 para a Dance Magazine e reimpressa em 1975 no livro “Anthology of American Jazz Dance” de Gus Giordano; ele fala que o verdadeiro Jazz era o que se dançava nos anos 1920 e 1930; e que a raiz disso era o lindy hop e que qualquer coisa dançada em nome do jazz deveria vir do lindy, desde que teatralizada e ampliada para o palco.

Entretanto, parte da fama de Jack Cole veio da ideia de codificação de uma dança que já tinha uma estrutura e do epistemicídio negro em relação ao Jazz. Dolores Kirton Caillou já falava na década de 1970, em “The origins of Modern Jazz Dance”, que podem haver diversas manifestações em jazz que provavelmente não foram vistas pelos brancos e portanto, não foram institucionalizadas. Isso é relevante, porque o começo do Jazz, para muitas pessoas, tinha a ver com a aparição nos palcos. Para muitos não existia porque não era institucionalizado.
Jack Cole, Bob Fosse, entre outros; sabiam em quem se inspiravam, mas nunca foram praticantes dessas danças. Usar elementos do jazz não transforma um trabalho em jazz. Precisa de fundamento, mas, principalmente, vivência.

É importante lembrar que tudo isso aconteceu durante o período de leis Jim Crow, que eram as leis de segregação racial nos Estados Unidos, favorecendo pessoas brancas em todos os aspectos. Ou seja, as pessoas negras não estavam desorganizadas, elas tinham muitos limitadores, inclusive, de expressão artística. Um, dos vários movimentos de resistência da população negra dos Estados Unidos, foi a U Street, que abrigava o Lincoln Theatre em Washington DC, ficando conhecida como Black Broadway.

O Jazz não precisava ser salvo pela branquitude.
Usar elementos e outras danças no jazz, não é um problema desde que a maior parte e a base, seja Jazz. Não podemos admitir mais, nem compactuar com aplicações e discursos onde colocam o balé como base ou termo técnico do Jazz.

Meu estudo é sobre a história do jazz, e minha opinião é que os que se incomodam com o meu discurso é porque entenderam nada sobre o jazz.

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