O jazz é um movimento social que teve como modo de expressão a dança, música e o canto. Começou quando pessoas negras ainda eram escravizadas nos Estados Unidos e que em suas festividades uniam os ritmos que já praticavam em seus territórios em África, com as influências de sons europeus, principalmente da França, país que foi um dos primeiros a explorar a região de Nova Orleans, cidade considerada o berço do jazz.
Transitou pelas bandas marciais e uma de suas primeiras vertentes vem desse cruzamento entre a cultura afro-estadunidense com a europeia, fazendo do ragtime o ritmo que embalava o começo do século XX.
Com o passar dos anos, conforme foram surgindo novas influências e tendências, o jazz que foi por décadas a música pop dos Estados Unidos, foi se transformando, até que uma de suas ramificações foi se configurando no rock & roll.
Por ser um movimento cultural oriundo do povo, passou por diversas mudanças durante todos esses anos de existência. Mas ainda hoje, os registros dessas mudanças são escassos, principalmente na dança, onde o conhecimento fica apenas por conta da oralidade, andando na contramão do estudo do próprio jazz. O que existe além da área musical, são livros, artigos e teses que possuem apenas a visão social-antropológica e datadas até um período muito atrasado à realidade artística do jazz, ou biografias de nomes que foram importantes.
Na música, o conceito de pureza se aproxima muito da era bebop e pós-bebop, que foi justamente a grande fase em que a dança e a música se tornaram assumidamente independentes uma da outra. Na dança, apesar de hoje existirem vertentes onde se faz ao som de bebop (Jazz Rock e UK Jazz), muito se considera como referência de Jazz Dance o que vem após a apropriação branca dentro do universo da Broadway, mesmo que o Jazz dançado ao som de swing continuasse a existir na cultura negra estadunidense.
No Brasil, a dança Jazz ficou conhecida e popularizada durante a década de 1980, principalmente pela televisão, nos programas de auditório e nas aberturas de novelas. Bailarinos e professores brasileiros faziam viagens aos Estados Unidos para terem aulas de jazz em escolas como o Joffrey Ballet School e o Jojo’s Dance Factory, em Nova Iorque, e traziam os conhecimentos adquiridos, adicionando seus próprios entendimentos e características.
O grande problema disso, é que essa dança Jazz desses espaços, embora protagonizada e ofertada por professores negros (Jojo Smith, Frank Hatchatt), já era algo que tinha passado pela peneira do embranquecimento e dos profissionais brancos da época (Luigi, Gus Giordano), nenhum citava suas referências e influências negras. Parte por pura omissão estrutural, parte por Jack Cole, erroneamente considerado por alguns como o “pai” do Jazz, ao trazer essa outra linguagem para a Broadway, no que inicialmente chamou de Dança Teatral (Theatrical Dance), não citou de onde e de quem vinham suas inspirações “revolucionárias”.
Atualmente, as pessoas tem estado mais atentas e ativas no entendimento do que seria a cultura do Jazz, sobretudo na dança. As pessoas estão se interessando mais em conhecer sua origem, embora poucas apliquem em seus trabalhos e continuem vendendo uma dança Jazz que não se conecta em nada com as swing dances, principalmente o Lindy Hop.
É uma história recente, apenas 100 anos, que sofreu diversos atravessamentos sociais e de raça. Dito isso, é importante lembrar que é uma dança que surgiu da diáspora negra nos Estados Unidos, de pessoas que foram escravizadas e de seus descendentes. É uma dança que representa resistência e identidade e isso deve ser sempre respeitado e protagonizado por quem se aproxima disso.