O modern jazz ainda é a referência do jazz dance atual, mesmo para as pessoas que sabem a origem e a história do jazz. Acontece, que esse jazz nada mais é do que apropriação branca e embora autores racializados não falem apenas sobre a utilização do nome – porque não foi mera coincidência linguística – existem algumas coisas que aconteceram na história da dança, que fizeram com que Jack Cole, Matt Mattox, Luigi e Bob Fosse, todos homens cis brancos, fossem considerados revolucionários e pioneiros no Jazz. E generalizando, o motivo foi: racismo.
Em entrevista para a Dance Magazine, em 1963, Cole disse:
“É o que víamos nos salões de dança nos anos 20 e 30, isso que é a verdadeira dança jazz. Este era um grupo de crianças, de jovens, que faziam todas aquelas danças que existiam na época: o Camel Walk, o Charleston, o Lindy Hop… Tudo derivado da dança africana e cheio de sentimento autêntico. E a raiz de todas essas elaborações foi o Lindy. Tudo o que é dançado em nome da dança jazz deve partir do Lindy, necessariamente teatralizado e ampliado para o palco, claro.”
E essa fala só reforça o que Dolores Kirton Cayou escreveu em um livro na década de 1970, sobre manifestações culturais negras em solo estadunidense. Aqui, ela se refere a danças negras que não foram vistas por pessoas brancas e, portanto, não institucionalizadas:
“A questão da institucionalização é importante. O início da dança jazz para muitas pessoas só teve a ver com a sua aparição no palco de shows ou similares. Para muitos não existia porque não estava institucionalizado.”
No período que antecede a utilização de elementos do Jazz, do Harlem, por Jack Cole – que também se apropriava de danças indianas – antes da grade depressão nos Estados Unidos, existiam um nicho no teatro musical que era negro, desde a produção até o produto, onde essas pessoas, pela primeira vez desde os shows de menestrel, podiam dançar e cantar suas culturas sem o estereótipo racista. Com a quebra da economia, essas apresentações deixaram de ter dinheiro o suficiente para continuarem em grande escala, porém, a dança e a música negra, já haviam sido apresentadas para a comunidade branca da época, que, como fez Cole, começou a usurpar em seus trabalhos.
Críticos e outras pessoas da dança identificavam essa referência que Jack Cole tinha do Jazz, por ter sido frequentador do Harlem e de suas culturas, mas eles sabiam que aquilo não era Jazz. Ele já era conhecido por ser diferente, mas como o surgimento do bebop e com a apresentação de “Sing, sing, sing” coreografado por Cole e apresentado na abertura do Latin Quarter em 1947, em Nova York.
Com isso, Jack Cole ganhou aval branco para prosseguir com seus trabalhos que usavam das suas referências visuais do Jazz do Harlem, sendo conhecido como o precursor do que viria ser chamado de Modern Jazz Dance, que ganharia mais força através das danças de Matt Mattox, onde ele não gostava de chamar assim, para ele é “freestyle” o “estilo livre.”. Entretanto, tanto Jack Cole, assim como um de seus aprendizes, Matt Mattox, tinha bases no balé e na dança moderna e será que isso de fato justifica o uso do ballet no jazz?